TERMÔMETRO DA COP30 #DIA 11: os nós do mapa do caminho, as marteladas da cúpula e a COP31
Olá, aqui quem escreve é Roberto Peixoto, repórter de Meio Ambiente no g1. Este é o Termômetro da COP30, edição #DIA 11, um boletim com o essencial que v...
Olá, aqui quem escreve é Roberto Peixoto, repórter de Meio Ambiente no g1. Este é o Termômetro da COP30, edição #DIA 11, um boletim com o essencial que você precisa saber sobre a 30ª Conferência do Clima da ONU. Eu vou explicar para você, em 7 tópicos, como foi a quarta-feira cheia de expectativas em Belém. Entre os destaques, eu conto que a Alemanha finalmente confirmou o aporte de € 1 bilhão no TFFF. Vou falar também por que o mapa do caminho para sair da dependência dos fósseis continua travado e cheio de nós. E ainda explico o que significa a COP31 ter sido fechada num acordo de última hora e inédito entre Turquia e Austrália. 1 - Em alta X em baixa EM ALTA: 🌳 Depois de semanas de expectativa, a Alemanha oficializou nesta quarta o aporte de € 1 bilhão no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). É o maior anúncio desde a Cúpulas de Líderes, algo que dá um novo impulso ao mecanismo pensado pelo Brasil para transformar a conservação das florestas em retorno financeiro real. O movimento também coloca pressão sobre outros países ricos que ainda não se posicionaram, especialmente num momento em que o fundo virou uma das principais vitrines diplomáticas da COP30. "Tivemos a alegria de ver a Alemanha anunciar o seu aporte. Esse aporte está na ordem de 1 bilhão de euros para o TFFF, graças a todo o esforço que vem sendo feito e em demonstração de que, de fato, esse instrumento de financiamento global é muito bem desenhado, muito bem estruturado e começa a dar as respostas esperadas", disse a ministra do Meio Ambiente Marina Silva em Belém. EM BAIXA: 🧭 Mesmo com todo o barulho em torno do mapa do caminho para sair da dependência dos fósseis, a verdade é que o texto continua patinando. A ideia ganhou visibilidade, mas não ganhou corpo. A adaptação, que é um pilar tão importante quanto a mitigação, virou um dos maiores impasses: países vulneráveis querem metas claras e financiamento, enquanto parte dos países ricos insiste em manter tudo mais vago. E aí mora o problema. Sem consenso sobre adaptação, o mapa do caminho fica mais fraco e mais difícil de entrar forte no documento final. A resistência de grandes produtores de petróleo também pesa. Nem a presença do presidente Lula em Belém, numa maratona de reuniões para destravar negociações, conseguiu mudar esse clima. "A vinda de Lula tem peso, mas precisamos ver os resultados nas negociações. A reafirmação do presidente de que é hora de caminhar para longe dos fósseis é importantíssima. Que ela traga o apoio necessário para sairmos de Belém com um plano concreto rumo ao abandono dos fósseis", critica Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa. 2 - Brisa de esperança: um vulcão que pode virar energia limpa Hoje a nossa brisa vem direto dos Estados Unidos. E, ironicamente, de um dos vulcões mais perigosos do país. No estado do Oregon, engenheiros estão construindo o que pode se tornar a usina geotérmica mais quente do mundo, usando o calor extremo do Newberry Volcano para gerar eletricidade limpa. Sim, você leu certo: um vulcão. A tecnologia por trás disso usa o chamado superhot rock, uma camada de rochas tão quentes e profundas que podem produzir energia constante, dia e noite, sem depender de sol ou vento. O desafio é sobreviver ao calor: as perfurações já registraram mais de 330°C, e a meta é chegar ainda mais fundo, onde a temperatura passa dos 400°C. O plano é começar a vender eletricidade já no ano que vem para casas e comércios da região. Por que isso importa para a gente? Porque, se der certo, esse tipo de usina pode funcionar em muitos lugares do mundo, inclusive onde não há vulcões ativos. E isso muda o jogo: abre caminho para uma fonte de energia limpa, constante e com uma pegada ambiental muito menor que o petróleo, o carvão ou até a mineração tradicional de renováveis. Claro, ainda é teste. Ainda pode dar errado. As brocas podem falhar, os poços podem não aguentar. Mas é uma daquelas ideias que mostram como a corrida tecnológica pode abrir caminhos reais para sair dos combustíveis fósseis. 3 - Traduz aí, g1 Presidente da COP 21, Laurent Fabius, usa martelo em forma de folha para marcar a aprovação do Acordo de Paris. AP Photo/François Mori O QUE REPRESENTAM AS BATIDAS DE MARTELO NA COP? Se você acompanha COP, já viu esse momento: o presidente da conferência olha para a sala, faz uma pausa, pergunta se alguém se opõe e… pá. O martelo desce. Aplausos, abraços, bandeiras, choro ou protestos. A batida de martelo é o “é isso” das negociações climáticas. É ela que confirma, oficialmente, que quase 200 países chegaram a um consenso sobre um texto, seja um acordo histórico, uma decisão técnica ou até a aprovação da agenda do dia. Como as COPs não funcionam por votação, é a batida que transforma conversas em decisão formal. Por trás desse gesto simples tem um processo de dias (às vezes madrugadas inteiras) de negociações parágrafo por parágrafo. Quando o martelo bate, significa que: o texto está fechado, não cabe mais mexer; todo mundo topou, ou pelo menos ninguém fez uma objeção forte o bastante para barrar; nasce oficialmente uma decisão da COP. É também um momento cheio de simbolismo. O martelo representa a autoridade de quem preside a conferência, só ele ou ela pode decidir quando o consenso existe. Por isso, a batida pode virar cena histórica, como no Acordo de Paris, ou virar polêmica, quando alguma delegação diz que não foi ouvida a tempo. 4 - Pergunta do dia: onde vai ser a COP31? Depois de dias de impasse, o quebra-cabeça da próxima COP finalmente se resolveu nos corredores de Belém: a COP31 será na Turquia, na cidade mediterrânea de Antália, em novembro de 2026. Como funcionam as negociações na COP A decisão saiu de um acordo de última hora entre Turquia e Austrália. Os dois países disputavam a sede há meses. A Austrália, inclusive, depois de uma campanha de mais de três anos. Mas, como nenhum dos lados recuava, o risco era cair numa regra da ONU que levaria a conferência automaticamente para Bonn, sede do secretariado climático. Ninguém queria isso, nem os alemães. O arranjo que destravou tudo é inédito: a Turquia será a anfitriã oficial da COP31; e a Austrália ficará responsável por “presidir as negociações”. Na prática, a Turquia organiza o evento, enquanto a Austrália conduz a parte política das conversas. Há também um ponto importante no pano de fundo: os países do Pacífico, que apoiavam a candidatura australiana, esperavam ver a região sediar sua primeira COP. Como compensação, o acordo prevê um encontro preparatório (pré-COP) em uma ilha do Pacífico antes da conferência de 2026. O anúncio oficial deve sair nas próximas horas em Belém, mas, nos bastidores, o clima é de alívio: a COP31 tem casa e as negociações globais evitam um ano inteiro de incerteza. Quer mandar uma pergunta pro TERMÔMETRO? Envie pelo VC no g1 ou nos comentários desta reportagem 5 - Fóssil do Dia Ativistas da Climate Action Network entregam o “Fóssil do Dia” à União Europeia durante ato bem-humorado na Blue Zone da COP30, em Belém. Climate Action Network O “Fóssil do Dia” desta quarta-feira ficou com a União Europeia. Segundo a Climate Action Network, o bloco tem adotado uma postura de travamento nas negociações, especialmente quando o assunto é financiamento público para países vulneráveis. Os ativistas dizem que, enquanto países do Sul Global lidam com dívidas, secas, enchentes e custos crescentes de adaptação, a UE tem priorizado interesses financeiros e comerciais e evitado compromissos mais claros sobre dinheiro novo. Em um comunicado, a rede cita desde resistência a ampliar recursos de adaptação até manobras para manter obrigações pouco explícitas no Artigo 9.1, que trata de financiamento climático. Qual gás do efeito estufa é o maior vilão do clima? A CAN também aponta a contradição entre o discurso europeu de “transição justa” e a defesa de políticas que, segundo ativistas, afetam defensores ambientais, especialmente povos indígenas, mulheres e comunidades negras. Outro ponto citado é o corte de verbas de ajuda ao desenvolvimento em alguns países do bloco. A cerimônia ainda trouxe uma “menção desonrosa” para Arábia Saudita, acusada de tentar esvaziar referências à ciência e a direitos humanos em diferentes frentes da COP. 🦖 O "Fóssil do dia" é um "prêmio" simbólico e irônico, concedido uma vez por dia durante as conferências climáticas da ONU. 6 - Você precisa assistir Como ilhas do Pacífico já sofrem com o aumento do nível do mar No pavilhão das Ilhas do Pacífico, um dos espaços mais movimentados da COP30, a enviada especial do g1 Paula Paiva Paulo encontrou países que quase não emitem gases de efeito estufa, mas que estão entre os mais ameaçados do planeta. Representantes de Tuvalu, Fiji, Ilhas Marshall e Vanuatu contam que vivem uma contradição diária: poluem pouco, mas sentem primeiro o avanço do mar. Em algumas ilhas, a linha d’água já toca áreas onde antes havia casas, plantações e espaços comunitários. O risco de desaparecimento total nas próximas décadas aparece em todas as conversas. A PPP também ouviu relatos sobre medidas práticas que já estão em andamento. Em Tuvalu, por exemplo, um projeto financiado pelo Fundo Verde para o Clima construiu seawalls — muros de contenção que ajudam a segurar o avanço do mar. Parte da ilha também foi aterrada para ficar mais alta, levando em conta projeções até depois de 2100. Mesmo assim, os representantes lembram que “evitar o problema é mais importante do que se adaptar”. O vídeo da Paula no pavilhão mostra como essas nações-laboratório da crise climática estão tentando sobreviver enquanto cobram uma ação global mais rápida. Vale muito assistir. 7 - Além da imagem Cartas escritas por crianças são exibidas na COP30 em um corredor da Blue Zone. Fernando Llano/AP MAIS DO QUE UMA FOTO: A imagem acima mostra cartas escritas por crianças de vários países para a Presidência da COP30. Os textos falam de medo, de aulas interrompidas por enchentes e ondas de calor e de expectativas sobre decisões que possam proteger quem é mais jovem. Quem vem circulando com essas mensagens ao longo da semana é Philip McMaster, o "Sustaina Claus" (apelido que usa em referência a um “Papai Noel da sustentabilidade”), figura conhecida nas COPs por transformar alertas ambientais em pequenas performances que chamam a atenção no meio da Blue Zone. A mobilização pede que a infância seja citada de forma explícita nos textos negociados em Belém. Segundo o Instituto Alana, um terço da população mundial é menor de idade e 242 milhões de estudantes já tiveram suas aulas interrompidas por eventos extremos. A estimativa é que quase 6 milhões de crianças possam entrar na pobreza até 2030 por causa do clima. Leia um trecho de uma das cartas abaixo: “Quinta-feira, dezoito de setembro de 2025 Olá, sou Carlos, tenho 8 anos, moro em Madri e estudo na escola CEIP Ignacio Zuloaga. Quero que vocês peçam para que não haja tanta poluição e que não haja tantas guerras. Tchau! Boa viagem!” 'Sustaina Claus' leva à COP30 cartas de crianças sobre o futuro do planeta Amanhã, acompanhe mais um TERMÔMETRO DA COP30. Até lá! LEIA TAMBÉM: Preços de hospedagem caem quase 50% em Belém às vésperas da COP 30, aponta Airbnb Cúpula de Belém surpreende ao trazer de volta o petróleo para o foco das negociações da COP Tornado, ciclone, furacão: entenda as diferenças entre os fenômenos meteorológicos